Quais são as diferenças
entre uma proposta urbana tradicional e uma proposta urbana sustentável? Quais
as principais referências de uma proposta urbana sustentável?
As áreas urbanas sentem, cada vez mais, os efeitos de
fenômenos como a mudança climática, o esgotamento de recursos, a insegurança
alimentar e a instabilidade econômica.
Para uma cidade sustentável, ou seja, ambientalmente, economicamente e
socialmente produtiva e segura, os fatores citados anteriormente precisam ser
resolvidos.
Desde o princípio da ocupação humana, as pessoas, consciente
e coletivamente, intervêm na natureza, criando áreas urbanas para atingir
objetivos sociais e políticos. Atualmente, surgem debates a respeito do
planejamento urbano mais adequado para lidar com os problemas encarados por
tais assentamentos urbanos.
Em determinados momentos do
século passado, o planejamento foi visto como a atividade que poderia resolver
muitos dos principais problemas das zonas urbanas, enquanto em outros, foi
visto como uma interferência desnecessária e indesejada do governo. Mais
recentemente, tem-se argumentado que os sistemas de planejamento urbano são
também a causa de muitos problemas, e que por estabelecerem padrões irreais de
desenvolvimento e incentivando formas urbanas modernistas inadequadas, promovem
a pobreza e a exclusão.
O planejamento urbano precisa ser
revisto. E para tal, governos, autoridades urbanas locais e profissionais
urbanistas necessitam desenvolver uma abordagem diferente. O planejamento
urbano é uma significativa ferramenta para lidar com os desafios do século XXI
e atingir os objetivos da urbanização sustentável. Estes objetivos terão de
incluir formas de alcançar a eqüidade sócio-espacial, a sustentabilidade
ambiental e a produtividade econômica em áreas urbanas.
No entanto, não existe nenhum
modelo de sistema de planejamento que possa ser aplicado em todas as partes do
mundo. Eles precisam ser moldados de acordo com as práticas e normas locais. O
futuro planejamento urbano precisa acontecer dentro de uma compreensão dos fatores que estão moldando os aspectos
sócio-espaciais das cidades e as estruturas institucionais que as gerenciam.
Mudanças climáticas: As áreas urbanas necessitam de medidas
e políticas projetadas para a redução na emissão de gases de efeito estufa, com
melhorias do transporte público e compactação e uso misto das cidades. São
também necessárias medidas de adaptação a tais mudanças climáticas, com a
relocação de assentamentos vulneráveis e melhora na drenagem e nos sistemas de
infra-estrutura.
Crise econômica global: Os
governos devem atuar em parceria com a sociedade civil e o setor privado no
desenvolvimento urbano.
Fornecimento de energia: A longo prazo, o fornecimento de
petróleo começará a declinar. O impacto do dióxido de carbono (CO2) eliminado
por veículos movidos a petróleo está se tornando melhor compreendido e isso vai
também incentivar uma diminuição do uso de transportes dependentes de petróleo
nas cidades. Tais assentamentos urbanos terão de introduzir formas de
transporte público e bicicleta e incentivo aos pedestres. Os custos crescentes
de transporte de alimentos irão aumentar a demanda para espaços de agricultura
urbana nas cidades. De baixa densidade, os subúrbios poderiam ser abandonados
ou empregados para outro uso.
Alimentação: O custo
crescente dos alimentos em todas as partes do mundo é uma resposta para os
custos de combustível e à degradação das terras agrícolas. Ambientes urbanos
precisam ser planejados de modo que eles permitam que a agricultura urbana se
torne um elemento aceito e mercados de alimentos locais sejam um padrão na
infra-estrutura urbana.
Alteração no tamanho da população das cidades: O crescimento
da população urbana encontra-se em todas as
partes do mundo. Se considerarmos este problema associado com as mudanças
ambientais, então é claro que as cidades
capazes de planejar onde e como este novo assentamento terá lugar,
estará em uma posição muito melhor nas próximas décadas.
A desigualdade de renda: Tem dado
origem a áreas urbanas com fortes contrastes entre as áreas de riqueza e
pobreza, com níveis crescentes de criminalidade alimentando o desejo pela
riqueza. Assim, a desigualdade de renda e a fragmentação espacial se reforçam
mutuamente, gerando cidades segregadas e
violentas. Os desafios para o planejamento em abordar esta questão são
particularmente difíceis. O planejamento tem que buscar formas de promover a
integração e coesão social, talvez através de um aumento na qualidade do espaço
público.
A diversidade cultural: Volumes crescentes de migração global
fezem com que as cidades em todas as partes do mundo tornem-se muito mais
multiculturais. Isto está tornando os
processos participativos sobre questões de planejamento muito mais
difíceis. A diversidade cultural tem implicações importantes em como ambientes
construídos serão gerenciados. Os planejadores precisam procurar um equilíbrio
entre grupos culturais, tentando preservar a sua identidade nas cidades e a
necessidade de evitar formas extremas de segregação e fragmentação urbanas. Os
conflitos ao redor de edifícios religiosos e a estética do edifício, são, por
exemplo, as novas questões que os planejadores têm que enfrentar cada vez mais.
O urbanismo sustentável é uma nova disciplina que articula as
múltiplas e complexas variáveis que intervém em uma aproximação sistemática do
desenho urbano que supera o zoneamento clássico do urbanismo convencional. O
desenho e o planejamento urbano devem incluir como componentes estruturais, e
desde início do processo de desenho, as novas tecnologias de informação e os
cuidados com a natureza e a sustentabilidade.
As cidades devem ser vistas como parte e extensão da natureza
e os projetos urbanísticos devem estar em harmonia com essa mesma natureza,
apresentando propostas de interação da cidade com o meio ambiente natural,
lugares com recursos próprios, com demandas necessárias para sua manutenção e
seu desenvolvimento. Assim, o conceito de desenvolvimento urbano sustentável
passa por uma estratégia de ecologia urbana apresentando a cidade como um meio
ambiente artificial, que utiliza o ambiente natural, mas que também pode ser
fonte de recursos.
O “Ecourbanismo” preocupa-se com aspectos como o
aproveitamento racional dos espaços e do tempo, a qualidade da água e do ar,
cuidado com o clima, microclimas e a cobertura vegetal, controle de ruídos, dos
aspectos naturais, tecnológicos, além de maior inclusão social em meio ambiente
com qualidade, espaços públicos, enriquecimento da cultura ambiental, entre
outros.
A água, por exemplo, no urbanismo tradicional é vista somente
como água potável e água residual, enquanto os assentamentos sustentáveis são
projetados para otimizar o ciclo da água, com obtenção de água doce através de
meios ecologicamente aceitáveis, segregação das águas residuais para
reutilização e irrigação, coleta e utilização da água das chuvas e, ainda, a
reposição do nível freático.
A participação dos usuários no planejamento sustentável é
efetiva até a aprovação final das propostas, não se limitando a passar
informações sobre suas necessidades. Preocupa-se com o fortalecimento das
comunidades, respeitando os laços sociais, a interação social e cultural e sua
vida comunitária, além da revitalização de edificações de valor histórico e de
zonas urbanas degradadas.
O equilíbrio ecológico dos assentamentos humanos implica em
preocupações com a conservação ambiental, em garantir o tratamento dos núcleos
urbanos e rurais, o que decorre em menor segregação social, em acessibilidade
do cidadão aos benefícios da vida comunitária e sua participação na gestão de
seus problemas.
Os projetos ecourbanos apresentam uma visão sistêmica e
integral e o interesse em soluções conseqüentes. O urbanismo sustentável pede
sociedades capazes de abandonar o modo tradicional de entender e fazer cidades
e requer disposição, criatividade e o compromisso dos muitos atores sociais,
através de um diálogo efetivo, que cria condições de envolvimento dos cidadãos
no planejamento sócio – ambiental.
O desenvolvimento sustentável dos projetos urbanos deve
apoiar-se em pontos que possibilitem o êxito de sua realização. Um dos pontos
mais importantes é o da participação-cidadã nas propostas, nos planos e
projetos, pois se o cidadão não se sente informado ou não está de acordo, é
provável que falhem.
Outro aspecto é o da continuidade dos projetos, pois os
planos e projetos não são planos de governo, mas que continuam através do
tempo, independentes de partido político ou modismos. Igualmente importante é a
habilidade de transformar os planos idealizados em planos implementados. E, por
fim, é indispensável a ferramenta de controle e monitoramento constante, além
de medidas corretivas no momento exato da necessidade.